DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA INFECÇÃO PELO NOVO CORONAVÍRUS (COVID-19)
Posicionamento da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica (SBPC/ML)
Fluxo de atendimento e coleta de amostras
O Posicionamento da SBPC/ML visa orientar os profissionais de saúde quanto às práticas recomendadas para o diagnóstico laboratorial do SARS-CoV2, nova cepa de coronavírus identificada na China em janeiro de 2020, causadora da doença denominada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como COVID-19.
- Premissa de atendimento
A investigação laboratorial do COVID-19 somente ocorre mediante pedido médico.
- Fluxo de atendimento
- Os laboratórios devem criar fluxos para identificação precoce de pacientes sintomáticos com solicitação para pesquisa do SARS-CoV2, bem como processos de atendimento preferencial ou referenciamento a outros serviços.
- Oferecer máscara. Para os sintomáticos respiratórios, é recomendada, durante a permanência na unidade, a utilização da máscara cirúrgica pelo paciente e por seu(s) acompanhantes(s).
- Enfatizar a importância do uso de lenços descartáveis ao espirrar e tossir, bem como da higiene frequente das mãos com álcool gel ou lavagem das mãos com água e sabão. Aconselha-se a disponibilização deste material em local de fácil acesso aos pacientes, bem como de lixeiras para lixo comum com acionamento por pedal para descarte de lenços e máscaras já utilizados pelos pacientes.
- Conduzir a áreas reservadas (idealmente box privativo fechado), ou ainda a disponibilização de coleta em domicílio.
- Acompanhantes não devem permanecer na sala no momento da coleta.
- Minimizar o tempo que o paciente permanece na unidade laboratorial, principalmente em contato próximo com demais pacientes.
- Investigação laboratorial de infecção respiratória associada ao SARS-CoV2
- Método: O teste recomendado para o diagnóstico da infecção por SARS-CoV2 é a reação da polimerase em cadeia com transcrição reversa em tempo real (rRT-PCR).
- Material: coleta e a testagem simultânea de amostras de trato respiratório superior (swabs de nasofaringe E orofaringe) para todos os casos e amostra de trato respiratório inferior (escarro, quando possível), no caso de pacientes com tosse produtiva. A indução de escarro não é recomendada.
Procedimento de coleta de swab de nasofaringe e orofaringe
Swabs de alginato de cálcio e de madeira podem inativar vírus e inibir reação de PCR, portanto não devem ser utilizados
- Coleta de swabs de trato respiratório superior
Primeiramente, pedir ao paciente para assoar o nariz em um lenço descartável de modo a eliminar o excesso de pus e muco e desprezar em lixeira própria para resíduo infectante.
- Swab de Nasofaringe
Inserir o swab em uma das narinas, paralelamente ao palato.
Deixar o swab no local por alguns instantes para absorver as secreções.
Repetir o procedimento na outra narina.
- Swab de Orofaringe
Coletar material da orofaringe posterior, evitando a base da língua, os dentes e as bochechas.
Inserir os swabs imediatamente (se necessário, cortar o excesso dos cabos) após a coleta em 2-3mL de solução fisiológica a 0,9% estéril ou meio de transporte universal viral (UTM) e manter imediatamente sob refrigeração (2 a 8°C).
- Coleta de amostra de trato respiratório inferior
- Lavado bronco alveolar, aspirado traqueal – Seguir instruções de coleta da instituição que realiza o exame. Coletar 2 a 3 mL em um frasco estéril, estanque e com tampa de rosca. Manter sob refrigeração (2 a 8°C). – Procedimento hospitalar.
- Escarro – O paciente deve enxaguar a boca com água, forçar uma tosse profunda com expectoração diretamente dentro do recipiente estéril de boca larga e tampa de rosca, próprio para coleta de escarro. Manter sob refrigeração (2 a 8°C).
Atenção: No caso de laboratórios privados, devem-se coletar amostras adicionais para envio ao Laboratório Central de Saúde Pública (LACEN).
- Biossegurança e uso de equipamento de proteção
Devem ser utilizados para a coleta avental descartável, luvas, máscara N95 e óculos de proteção.
- Colocação dos EPIs (antes de adentrar a sala de coleta):
Primeiro passo: Vestir o avental descartável de mangas longas. Trocar se houver contaminação durante a coleta.
Segundo passo: Colocar a máscara N95/PFFE.
Terceiro passo: Colocar os óculos ou o escudo de proteção.
Quarto passo: Calçar as luvas, após a lavagem ou higienização das mãos, e ajustar sobre os punhos.
Trocar se houver contaminação.
- Retirada dos EPIs (antes de deixar a sala de coleta, exceto a máscara):
Primeiro passo: Retirar as luvas de forma a não contaminar as mãos com a parte exterior.
Segundo passo: Retirar os óculos ou escudo e lavar ou higienizar imediatamente as mãos.
Terceiro passo: Retirar o avental tentando não tocar na parte frontal. Se isso ocorrer, lavar ou higienizar as mãos.
Quarto passo: Retirar a máscara por trás, evitando tocar a região frontal, somente após deixar a sala de coleta.
Lavar as mãos com água e sabão ou higienizá-las com álcool-gel.
Descartar o material usado em recipiente de descarte de lixo infectante.
Nota: A máscara conhecida como respirador N95 refere-se a uma classificação de filtro para aerossóis adotada nos EUA que equivale, no Brasil, à PFF2 ou ao EPR semifacial com filtro P2 — todos com níveis de proteção e resistência equivalentes. A máscara N95 deve ser posicionada antes de entrar no box de coleta, e retirada após sair do box.
- Recomendações gerais para manipulação de material potencialmente infectante em ambiente laboratorial
Quaisquer procedimentos com potencial de geração de aerossóis (por exemplo, o preparo de amostras com frasco aberto, e uso de vórtex) devem ser realizados dentro de cabine de segurança biológica certificada de Classe II.
Idealmente as caçapas das centrífugas devem ser abastecidas e desabastecidas dentro da cabine de segurança biológica, e devem ser usadas centrífugas apropriadas com rotores tampados.
Qualquer procedimento que gere aerossol e seja realizado fora de cabine de segurança, bem como limpeza de mate-
rial clínico altamente suspeito, deve ser feito com a utilização de máscara N95 ou equivalente. Após o processamento das amostras, as superfícies e equipamentos devem ser descontaminados com desinfetantes apropriados.
- Transporte de amostras biológicas
A embalagem e o transporte das amostras biológicas que possam conter o SARS-CoV2 devem seguir as recomendações da legislação vigente (atualmente, a RDC Nº 20, de 10 de abril de 2014, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, para Substância Biológica Categoria B).
As instruções de estabilidade de amostra e temperatura de acondicionamento devem seguir as orientações do laboratório realizante.
- Limpeza e desinfecção de superfícies
Em períodos de maior circulação de vírus respiratórios, recomenda-se intensificar a limpeza de superfícies e objetos de uso frequente do público, como maçanetas e botões de elevadores.
Fazer a desinfecção de superfícies com hipoclorito de sódio a 0,1% ou etanol 62-70% reduz significativamente e infectividade dos coronavírus após 1 minuto de exposição.
Evidências da literatura a respeito dos agentes SARS-CoV e MERS-Cov demonstram que os coronavírus humanos podem permanecer infectantes em superfícies inanimadas por até 9 dias.
- Outros exames
Outros patógenos respiratórios devem ser pesquisados na avaliação clínica inicial, sendo de grande valia a aplicação de painéis moleculares para patógenos respiratórios, que quando positivos permitem atribuir a síndrome clínica a outro agente etiológico, descartando a infeção por SARS-CoV2. Esta recomendação pode ser modificada de acordo com o conhecimento do papel de coinfecções envolvendo o SARS-CoV2.
Importante salientar que o conhecimento sobre a doença vem evoluindo, de forma que as recomendações poderão sofrer modificações.
Assessoria Científica Lab Rede
Fonte: Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial SBPC/ML. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA INFECÇÃO PELO NOVO CORONAVÍRUS (COVID-19) – POSICIONAMENTO OFICIAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE PATOLOGIA CLÍNICA/MEDICINA LABORATORIAL (SBPC/ML). Disponível em http://www.sbpc.org.br/wp-content/uploads/2020/02/DiagnosticoLaboratorialDaInfeccaoPeloNovoCoronavirus.pdf Consulta em 12/03/2020